Safra recorde de Prosecco não diminuirá o preço dos vinhos
A Itália acaba de produzir a maior safra de uvas da história para o Prosecco, um vinho espumante que estabeleceu recordes de vendas nos últimos anos. Mas é improvável que os preços caiam a curto prazo porque as vinícolas estão estocando o excedente.
As condições de cultivo próximas à ideal neste verão (Hemisfério Norte) levaram a colheitas excepcionais de uva por toda a Itália, que deverá superar a França como maior produtora de vinho do mundo.
Com a produção do Prosecco aumentando até 56% neste ano, para 3,5 milhões de hectolitros (467 milhões de garrafas), a organização que gerencia a denominação espera que 300.000 a 500.000 hectolitros sejam colocados em tanques de armazenagem por um ano ou mais.
Os vinicultores dizem que precisarão do excedente depois, porque a demanda está indo às alturas. A indústria de Prosecco projeta que as vendas globais subirão 20% neste ano, para 1,68 bilhão de euros (US$ 1,84 bilhão).
A cerca de US$ 12 a garrafa, o vinho tem ganhado cada vez mais popularidade entre os consumidores jovens no Reino Unido e nos EUA como alternativa ao champanhe francês, que custa US$ 52, em média.
Para atender a demanda, as vinícolas expandiram o plantio nas regiões nordeste de Veneto e Friul-Veneza Giulia, designadas para as uvas Prosecco.
“Nunca houve tantas uvas colhidas para a produção dos nossos vinhos”, disse Stefano Zanette, presidente do Consórcio de Prosecco DOC, com sede em Treviso, Itália, por e-mail.
Apesar de a produção ter mais do que triplicado desde 2009 -- em grande parte pelo aumento do plantio, que agora cobre 20.000 hectares --, os novos vinhos levam cerca de três anos para atingir a colheita plena.
Os governos regionais restringem a parcela do rendimento anual que pode ser usada para a produção de Prosecco, normalmente de 18 toneladas por hectare, disse Luca Giavi, diretor do consórcio. Isso ajuda a controlar a oferta e a preservar a qualidade, porque a utilização de muitas uvas no vinho pode afetar o sabor da fruta.
Explosão de uvas
Neste ano, o consórcio alterou esses limites e pela primeira vez permitiu uma reserva, porque os vinhedos estavam transbordando de uvas de qualidade, inclusive da variedade glera, que por lei precisa compor pelo menos 85% do vinho.
As chuvas estáveis do verão e as temperaturas apenas um pouco acima da média haviam permitido que os frutos amadurecessem com muito poucas pragas.
O limite de rendimento foi elevado para um recorde de 21,6 toneladas por hectare, sendo qualquer produção acima de 18 toneladas levada para estocagem, disse Zanette. Uma pesquisa recente com os produtores mostrou que eles estavam destinando cerca de 2,5 toneladas por hectare às reservas.
Os vinhos regulares são fermentados uma vez em um grande tanque ou barril, mas as variedades espumantes passam pelo processo duas vezes para que sejam criadas as bolhas.
No caso do champanhe, que é produzido com as uvas da região francesa de mesmo nome, a segunda fermentação ocorre nas garrafas individuais e o produto é capaz de manter a efervescência durante anos.
A fermentação secundária do Prosecco se dá em cubas de aço conhecidas como autoclaves, que são mais rápidas e baratas, e o vinho deve ser consumido em um ano.
Tanques de armazenagem
Até 20% da colheita será fermentada para obter um vinho básico e armazenada em tanques de aço até janeiro de 2017, disse Zanette. Com os novos vinhedos, a produção continuará aumentando até 2018, mas o excedente deste ano poderá não redundar em preços mais baixos para o vinho.
O estoque será necessário para atender o aumento das vendas nos próximos anos, disse ele.
“Eu não esperaria nenhum declínio no preço”, disse Stephen Rannekleiv, diretor-executivo de pesquisa alimentar e agronegócio do Rabobank International em Nova York. “Eles estão fazendo tudo o que podem no momento para suprir a crescente demanda mundial”.
As vendas do vinho espumante italiano amarelo-palha estão subindo, especialmente depois que a recessão forçou os consumidores a buscarem alternativas mais baratas para o champanhe, disse Jonny Forsyth, analista da empresa de pesquisas de mercado Mintel em Londres.
Fonte: Exame