AMÉRICA LATINA, MUITO MAIS QUE CHILE E ARGENTINA - UMA TAÇA DE OINOS COM WAGNER GABARDO
Viticultura sem fronteiras
por
Wagner Gabardo
A viticultura sul-americana rompe
cada vez mais fronteiras. Os que pensam que os vinhos são produzidos unicamente
no cone sul – leia-se Chile, Argentina, Uruguai e Brasil – eis uma bela
surpresa: nossos hermanos da Comunidade Andina também se dedicam a
vitivinicultura.
A começar, literalmente, pelo Peru,
onde forma plantados as primeiras vinhas da América do Sul em 1540. Os vinhedos
estão espalhados no litoral sul do país, desde o histórico vale do Ica até a
fronteira com o Chile, transpassando as províncias de Arequipa, Tacna y
Moquegua. A maioria das uvas plantadas tem como destino a elaboração do
destilado insígnia do país: o Pisco. O nome, de origem quéchua, também batiza
uma das cidades da região. Atualmente os piscos peruanos colecionam medalhas em
concursos internacionais. A produção de uvas para vinho é menor porém não menos
interessante. Variedades de origem francesa predominam nos vinhedos. Malbec,
Tannat, Syrah e Petit Verdot têm originado vinhos muito interessantes. Tanto em
vinhos varietais como misturadas entre si. Viña Tacama e Intipalka – marca de
vinhos da tradicional pisqueria Santiago Queirolo – estão as entre as
principais vinícolas do país.
Quantum
Petit Verdot – Viña Tacama
Proveniente de vinhedos a 40 km de distância e a 400 metros de altura
do Pacífico.
Costumo ter
receio em provar um 100% Petit Verdot esperando vinhos muito duros,
adstringentes e difíceis de tomar. Para minha surpresa essa safra 2006 revela
um vinho que se encontra no momento ideal de consumo. Com aromas a tâmaras e
coco queimado, na boca os taninos estão sedosos, boa acidez, corpo na medida e
um longo final. Estes 7 anos de vida o fizeram bem. Custo benefício ótimo, 39
reais.
Não é de se surpreender que Tarija,
no sul da Bolívia, se produzam vinhos. Esta região de altitude é vizinha
de Salta, na Argentina. Gozando dos atributos dos vinhos de altura da região,
como boa insolação, amplitude térmica e chuvas escassas, os caldos bolivianos
tem muito boa qualidade. Sem o excesso de maturação ou álcool elevado comum em
vinhos do norte argentino. A maior parte da produção está concentrada nas mãos
da vinícola Campos de Solana, fundada em 1925. Na propriedade são produzidas
quatro linhas de vinhos, além de um vinho ícone onde predomina Cabernet
Sauvignon, completado com Malbec e Merlot.
Campos de
Solana Merlot
Um Merlot de
vinhedos a 1850 metros sobre o nível do mar da vinícola Campos de Solana.
Com aromas muito frescos de eucalipto e frutas vermelhas. Na boca um vinho equilibrado, de muito boa acidez, taninos finos, álcool não se nota. Muito boa tipicidade de Merlot. No nariz lembra um bom vinho chileno, na boca confunde. Custo benefício excelente, 20 reais..
Com aromas muito frescos de eucalipto e frutas vermelhas. Na boca um vinho equilibrado, de muito boa acidez, taninos finos, álcool não se nota. Muito boa tipicidade de Merlot. No nariz lembra um bom vinho chileno, na boca confunde. Custo benefício excelente, 20 reais..
Já na Colombia, bem distante
das latitudes consideradas ideais para o cultivo de uvas viníferas está o Valle
do Leyva, 180 km ao norte da Capital Bogotá. Trata-se de uma região antiga que
conserva um casario colonial declarado patrimônio cultural e, ao mesmo tempo,
de uma novíssima região vinícola, como apenas uma vinícola produzindo
comercialmente dois vinhos varietais. Um branco de Sauvignon Blanc e um tinto
de Cabernet Sauvignon. As condições climáticas possibilitam uma colheita a cada
8 meses, ou seja, até 3 colheitas em 2 anos, similar ao ciclo do Vale do São
Francisco.
Marques de
Villa de Leyva Cabernet Sauvignon
Em um
primeiro momento um vinho com nome de Marqués nos leva a crer que estamos
diante de um vinho espanhol, provavelmente da Rioja. Mas logo abaixo a menção
"Vinhos Finos do Trópico" confunde. Cabernet Sauvignon Tropical?
Exato, a 2100
metros de altura dos Andes Colombianos também se cultivam vitis vinífera.
Este vinho provém de vinhedos com baixo rendimento, cerca de 4 toneladas por hectare, e maturou por 12 meses em carvalho americano. Cabernet gostoso, madeira se nota mas sem exagero, boa acidez e taninos bem resolvidos; com 13% de álcool é fácil de tomar, equilibrado, recomendo. Custo benefício bom, 40 reais.
Este vinho provém de vinhedos com baixo rendimento, cerca de 4 toneladas por hectare, e maturou por 12 meses em carvalho americano. Cabernet gostoso, madeira se nota mas sem exagero, boa acidez e taninos bem resolvidos; com 13% de álcool é fácil de tomar, equilibrado, recomendo. Custo benefício bom, 40 reais.
Para conhecer estes vinhos devemos viajar aos países produtores, já que
não são exportados ao Brasil. Um conselho aos viajantes: não percam a
oportunidade de prová-los. Afinal, descobrir o novo é o que torna o mundo dos
vinhos tão fascinante. Salud, hermanos!
Links das
vinícolas para imagens dos vinhos/vinhedos