Mineralidade é um Chavão?
“Mineralidade...
Ninguém sabe bem o que a palavra significa mas ela é cada vez mais empregue para descrever um vinho. Ela fez a sua aparição há mais de dez anos, tornando-se incontornável”…
Melhor conhecer para melhor compreender, melhor conhecer para melhor apreciar. Tudo o que precisamos de saber hoje, é se a mineralidade existe, de onde vem e como descrevê-la.
Provadores de vinho, jornalistas, comerciais muitas vezes, falam da mineralidade de um vinho, possivelmente de mais, mas que ela se transformou num caso sério na descrição de muitos vinhos, acima de tudo brancos, não tenho a menor dúvida.
Relembro que na École de Degustation de Pierre Casamayor de 1998, ele já reconhecia os aromas minerais do vinho branco, a pedra de fusil, a nafta e a mina do lápis nalgumas castas, como o Sauvignon e/ou o Riesling. Na Rewards of Patience, na 15ª edição de 2004 da Penfolds, Andrew Caillard MW, na descrição dos grandes vinhos 1992 e 1995 sempre se cita uma acidez mineral. No Le gout du vin edição de 2006 de Jacques Blouin & Emile Peynaud a única citação que faz parte da linguagem dos degustadores, é a palavra pedra na descrição das cores. Mas Chris Hambleton em 2008 cita na descrição dos aromas “with age, Riesling develops a smell (but not a taste) of gasoline”.
Segundo Davi Lefebvre, titular de um Curso de Química, a mineralidade não é um aroma, ela se degusta porque os sais minerais não passam ao estado de gás. Solúveis ou insolúveis, eles passam ao estado de cristais. É na boca que se joga a partida.
Por outro lado, as revistas de especialidade garantem, que não é o solo que produz a mineralidade num vinho. A mineralidade percebida tem origens nos aromas. No ultimo número Drinks Business, Sally Easton MW, fala de pesquisadores que estimam que uma sensação percebida em degustação como a mineral, não vem directamente dos nutrientes, contidos no solo, mas sobretudo dos thiois, ou seja dos ésteres. Daí se falar tanto de mineralidade nos aromas terciários e ou de envelhecimento.
O professor Alex Maltman, do Instituto de Geografia da Universidade de Gales, considera que não são somente os ingredientes minerais, pois eles são mínimos e são desprovidos de sabor, pois eles não excedem algumas centenas de partes por milhão (ppm), como exemplo o potássio, ou algumas dezenas de ppm como é o caso do cálcio e do magnésio. Ora esta sensação que queremos chamar de mineralidade é possível que seja provocada por ésteres que são formados numa reacção entre o álcool e um ácido orgânico. Os ésteres são altamente voláteis e nós somos capazes de os detectar em quantidades ínfimas: algumas partes por trilhão.
A sociedade cientifica da Nova Zelândia considera que os aromas minerais que aparecem no Sauvignon Blanc tem origem nos thiois o que conduz à sensação de mineralidade. Alguns continuam a considerar com algum romantismo associado, que toda a origem se encontra nos nutrientes do solo, mas segundo eles, essa não é uma pista séria.
A mineralidade, o conceito no vinho atual! Portanto, quando vimos nas revistas internacionais como o Wine Spectator ou Decanter utilizar em notas de degustação 10% das palavras, falando da mineralidade significa que ela está em alta nos descritores empregues, sendo portanto utilizada por muitos experts do vinho como um termo muito positivo, sendo portanto uma tendência atual do mercado.
No último Salon Wine Professional Amsterdam posta a questão a todos os participantes, se conheciam o termo Mineralidade ou o Vinho Mineral, 92% entre eles disseram que os minerais no vinho provêm do solo e só 2% supõem uma eventual relação com o solo e 6% não sabem a origem.
Com efeito a mineralidade é ainda difícil de definir, mas quando se sente os aromas ou sabores, não são difíceis de reconhecer.
O que significa então este adjetivo? Nos dias de hoje a mineralidade faz parte dos aromas do vinho, mas muitos continuam a defender como um gosto particular de certos vinhos brancos provenientes de vinhas cultivadas sobre um solo calcário. Mas a mineralidade, como característica subtil do vinho, definitivamente deverá ser reconhecida mais como aroma do que uma sensação táctil.
Hoje, sabemos que essa mineralidade se pode construir industrialmente, perdendo-se a originalidade da própria palavra.
O vinho é muito mais que o vinho!
Texto: Mario Louro
www.flashgourmet.com
Ninguém sabe bem o que a palavra significa mas ela é cada vez mais empregue para descrever um vinho. Ela fez a sua aparição há mais de dez anos, tornando-se incontornável”…
Melhor conhecer para melhor compreender, melhor conhecer para melhor apreciar. Tudo o que precisamos de saber hoje, é se a mineralidade existe, de onde vem e como descrevê-la.
Provadores de vinho, jornalistas, comerciais muitas vezes, falam da mineralidade de um vinho, possivelmente de mais, mas que ela se transformou num caso sério na descrição de muitos vinhos, acima de tudo brancos, não tenho a menor dúvida.
Relembro que na École de Degustation de Pierre Casamayor de 1998, ele já reconhecia os aromas minerais do vinho branco, a pedra de fusil, a nafta e a mina do lápis nalgumas castas, como o Sauvignon e/ou o Riesling. Na Rewards of Patience, na 15ª edição de 2004 da Penfolds, Andrew Caillard MW, na descrição dos grandes vinhos 1992 e 1995 sempre se cita uma acidez mineral. No Le gout du vin edição de 2006 de Jacques Blouin & Emile Peynaud a única citação que faz parte da linguagem dos degustadores, é a palavra pedra na descrição das cores. Mas Chris Hambleton em 2008 cita na descrição dos aromas “with age, Riesling develops a smell (but not a taste) of gasoline”.
Segundo Davi Lefebvre, titular de um Curso de Química, a mineralidade não é um aroma, ela se degusta porque os sais minerais não passam ao estado de gás. Solúveis ou insolúveis, eles passam ao estado de cristais. É na boca que se joga a partida.
Por outro lado, as revistas de especialidade garantem, que não é o solo que produz a mineralidade num vinho. A mineralidade percebida tem origens nos aromas. No ultimo número Drinks Business, Sally Easton MW, fala de pesquisadores que estimam que uma sensação percebida em degustação como a mineral, não vem directamente dos nutrientes, contidos no solo, mas sobretudo dos thiois, ou seja dos ésteres. Daí se falar tanto de mineralidade nos aromas terciários e ou de envelhecimento.
O professor Alex Maltman, do Instituto de Geografia da Universidade de Gales, considera que não são somente os ingredientes minerais, pois eles são mínimos e são desprovidos de sabor, pois eles não excedem algumas centenas de partes por milhão (ppm), como exemplo o potássio, ou algumas dezenas de ppm como é o caso do cálcio e do magnésio. Ora esta sensação que queremos chamar de mineralidade é possível que seja provocada por ésteres que são formados numa reacção entre o álcool e um ácido orgânico. Os ésteres são altamente voláteis e nós somos capazes de os detectar em quantidades ínfimas: algumas partes por trilhão.
A sociedade cientifica da Nova Zelândia considera que os aromas minerais que aparecem no Sauvignon Blanc tem origem nos thiois o que conduz à sensação de mineralidade. Alguns continuam a considerar com algum romantismo associado, que toda a origem se encontra nos nutrientes do solo, mas segundo eles, essa não é uma pista séria.
A mineralidade, o conceito no vinho atual! Portanto, quando vimos nas revistas internacionais como o Wine Spectator ou Decanter utilizar em notas de degustação 10% das palavras, falando da mineralidade significa que ela está em alta nos descritores empregues, sendo portanto utilizada por muitos experts do vinho como um termo muito positivo, sendo portanto uma tendência atual do mercado.
No último Salon Wine Professional Amsterdam posta a questão a todos os participantes, se conheciam o termo Mineralidade ou o Vinho Mineral, 92% entre eles disseram que os minerais no vinho provêm do solo e só 2% supõem uma eventual relação com o solo e 6% não sabem a origem.
Com efeito a mineralidade é ainda difícil de definir, mas quando se sente os aromas ou sabores, não são difíceis de reconhecer.
O que significa então este adjetivo? Nos dias de hoje a mineralidade faz parte dos aromas do vinho, mas muitos continuam a defender como um gosto particular de certos vinhos brancos provenientes de vinhas cultivadas sobre um solo calcário. Mas a mineralidade, como característica subtil do vinho, definitivamente deverá ser reconhecida mais como aroma do que uma sensação táctil.
Hoje, sabemos que essa mineralidade se pode construir industrialmente, perdendo-se a originalidade da própria palavra.
O vinho é muito mais que o vinho!
Texto: Mario Louro
www.flashgourmet.com
Mario Louro, Partilha artigos com o Blog Oínos Sem Mistério. Enólogo desde quase sempre, foi cedo que herdou a arte de seu pai.
Em 1976 passou a desempenhar funções na Câmara de Provadores passando a ser membro do júri de concursos nacionais e internacionais, como o Concurso Mundial de Vinhos (1979) e MUNDUS VINI (Alemanha).
Da elaboração dos programas de rotas de Vinho para a Expo 98, à coordenação do Projeto para o Conhecimento dos Vinhos Portugueses na Ásia, muitas foram as actividades no mundo dos vinhos ao longo dos anos.
Formador para profissionais desde 1991 e para enófilos desde 2000, destaca-se como formador da disciplina de Enologia na Escola Hoteleira do Estoril e Lisboa.
É ainda desde 2007 Diretor do Concurso Nacional de Vinhos, onde em 2012 estiveram presentes 198 provadores nacionais e estrangeiros.
Escreveu dois livros: “Quinta da Lapa” e “Uma Historia de Vinho”, e é atualmente cronista regular para vários jornais e revistas.
Em 1976 passou a desempenhar funções na Câmara de Provadores passando a ser membro do júri de concursos nacionais e internacionais, como o Concurso Mundial de Vinhos (1979) e MUNDUS VINI (Alemanha).
Da elaboração dos programas de rotas de Vinho para a Expo 98, à coordenação do Projeto para o Conhecimento dos Vinhos Portugueses na Ásia, muitas foram as actividades no mundo dos vinhos ao longo dos anos.
Formador para profissionais desde 1991 e para enófilos desde 2000, destaca-se como formador da disciplina de Enologia na Escola Hoteleira do Estoril e Lisboa.
É ainda desde 2007 Diretor do Concurso Nacional de Vinhos, onde em 2012 estiveram presentes 198 provadores nacionais e estrangeiros.
Escreveu dois livros: “Quinta da Lapa” e “Uma Historia de Vinho”, e é atualmente cronista regular para vários jornais e revistas.