A Arte de Beber

por Orlando Iglésias



Amigo sedento e apressado, alegre ou atarefado. Se mereces algum destes epítetos com que a ti me dirijo, não deixes de seguir o conselho que a Panurgo, o inseparável companheiro do Príncipe Pantagruel, deu a “Dive Boteille” e que serve de remate à imortal obra de Rablais “BEBE”! Se estás sedento aplacarás atua sede, se apresado afogarás as tuas penas, se alegre aumentarás o teu regozijo, se estás desocupado encontrarás distracção, se atarefado, alívio.
     
Ao dar-te estes conselhos e ao falar de beber não me refiro naturalmente à água e outras bebidas sem alma. O homem diferencia-se dos animais, dentre outras coisas, porque estes só bebem água.

Não esqueças amigo, que beber é uma arte, a que os antigos atribuíram um Deus, o grande Dionysios, Bacus, o folgazão e alegre filho de Júpiter, que teve dois amores: Vénus e Aniádne.

Beber é uma arte, não bebe bem quem bebe muito. Em todo o caso, como qualquer virtude, é má  quando elevada ao excesso. O aforro excessivo é avareza, trabalhar demasiado embrutece. O exercício exagerado depaupera, o amor trasbordante e desordenado converte-se em paixão doentia, e até a liberdade o bem mais precioso do homem, degenera em libertinagem quando se abusa dela.
     
O beber engendra e conserva amizades, umas bebidas em comum  criam e vinculam motivação  e confidências. Portanto beber é um ato social. Como poderia haver festa ou comemoração sem um cálice de Vinho do Porto ou um flûte de Champanhe?
     
Também o comer, além duma necessidade é um acto social. Mas nunca esqueças. “ um bom vinho pode salvar um mau prato, mas um mau vinho pode estragar uma refeição”.
     
O homem e o vinho têm andado sempre de mão dada através dos séculos, fazendo parte da sua cultura e do seu quotidiano, desde Noé até aos nossos dias.
     
Os arqueólogos descobriram que já se fazia vinho na Mesopotânia, há mais de 12 mil anos. A Rainha do Sabá, quando da sua visita ao Rei Salomão, quedou deslumbrada como o vinho era servido por escravos dotados de grande beleza física. No Egito 2.000 a.C. era ali produzido no vale do Nilo, sendo a sua produção exclusiva  das castas superiores, Faraós e Sacerdotes. José do Egipto e seu pai Jacob, na sua peregrinação para o Egito, foi brindado pelo Faraó, com um banquete onde o vinho era servido generosamente. Heródoto, importou vinho do Egipto para à Grécia. Mas foram os romanos, que o espalharam pela Europa. Em 1600 Olivier de Serres dizia: “depois do pão veio o vinho como segundo alimento dado pelo criador”.
   
Vinho é pois nobre, multissecular, generoso, vive, sofre, adoece,  morre. É símbolo de cultura, saibamos estar a sua altura!..., vamos  beber com ARTE!
     
       
   

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