Era uma vez, um cantinho grandioso do mar, nesse cantinho do mar encontrava-se um pedacinho do céu... "Uma taça de Oinos com...Barbeito”
Sempre
fui visto como o romântico dos provadores ou o poeta que degusta vinhos. É
natural que assim seja, pois as minhas referências sempre foram aqueles que
provavam com a paixão e o sentimento de quem vê o vinho como uma obra de arte. Nunca
fui apologista da técnica em demasia, sempre achei que um sommelier tinha de
ser o POETA DO VINHO e como todo o poeta, sou um viajante de sonhos que se
encanta e se envolve nas emoções...
Aprendi
que os grandes vinhos jamais se podem comparar ou pontuar. Todos os vinhos têm
o seu espaço, têm o seu momento e todos eles proporcionam algo inesquecível e
incomparável na vida de cada um de nós. Sendo assim cada segundo da prova é
para mim um dia importante da minha preciosa existência.
No mundo
atual e principalmente no Brasil, devemos entender que existe uma grande
diferença entre entender ou apreciar um vinho. Cada um de nós deve perceber
qual o seu espaço neste mundo mágico que é o vinho. Hoje vimos muitos
provadores que pontuam, mas são poucos os provadores que entendem o vinho na
sua essência. PORQUE A ESSÊNCIA DO VINHO NÃO É DE FORMA NENHUMA PONTUAR POR
PONTUAR! Cabe a cada um de nós aprendermos a separar o trigo do joio e deixar
de ver o vinho tão elitizado no nosso Brasil.
A série
deste blog “Uma taça de Oínos” (vinho em grego) será um espaço onde iremos
contar a história de um produtor ou a história de um vinho, mas nunca com o
objetivo de pontuar qualquer um deles.
Hoje
contaremos uma história centenária.
"Uma
taça de Oinos com...Barbeito”
Era uma vez, um cantinho grandioso do mar,
nesse cantinho do mar encontrava-se um pedacinho do céu.
E é nesse
abençoado lugar que se elabora um dos mais misteriosos vinhos do mundo.
O VINHO
DA RODA - O vinho da MADEIRA
O ano passado durante a viagem que
fizemos com a Wine Senses a Ilha da Madeira tivemos o privilégio de ser recebidos
na vinícola Barbeito. Sem dúvida um dos mais carismáticos e importantes
produtores de vinho desta maravilhosa ilha.
Um
pouco de História
A Ilha da Madeira foi descoberta nos tempos
áureos dos descobrimentos portugueses, por João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz
Teixeira e Bartolomeu Perestrello, em 1419. Os três capitães donatários
receberam o domínio das capitanias sob direcção do Monarca D. Henriques, e logo
desbravaram as terras e ocuparam o solo desta Ilha com cultura de trigo, vinha
e cana. Os primeiros colonizadores eram membros da nobreza portuguesa e trouxeram
para a ilha, trabalhadores e artesão vindos do Norte de Portugal os privilégios
especiais concedidos a quem colonizasse a Ilha, nestes primeiros anos de
exploração, aliciaram igualmente grandes empresários da Europa, que desde cedo
se aperceberam das potencialidades da Madeira na exploração de ligações com
importantes mercados de exportação. Embora não se saiba com precisão quais e
quando foram plantadas as primeiras vinhas, julga-se que os primeiros
colonizadores trouxeram consigo variedades que já existiam no Minho. No
entanto, registos históricos do navegador veneziano Alvise da Mosto,
conhecido por Luís de Cadamosto, que datam de 1450, evidenciam a
introdução da casta Malvasia Cândida nos primeiros anos de colonização. O
navegador refere que «… de entre as várias castas, o Infante D. Henrique mandou
plantar terrenos com Malvasia que foi enviada de Candia (capital da
Creta) e que estão a se desenvolver muito bem…», e ainda tece elogios, no seu
diário de viagens, à exportação de vinho e à sua boa qualidade.
Clima
VINHO DA RODA
A partir do séc. XVII o Vinho Madeira
teve nas Índias um dos seus principais mercados. Esta rota comercial tornou-se
famosa para o Vinho Madeira não só pela quantidade de exportações que ao longo
de dois séculos se vieram a verificar, mas também pelo afamado Vinho da Roda. O
transporte do Vinho Madeira para aquelas paragens era feito nos porões dos navios
que atingiam temperaturas muito elevadas na passagem pelos trópicos. Acontecia,
por vezes, que o Vinho regressava à Europa, tendo-se verificado que estas
viagens beneficiavam grandemente a qualidade do vinho. É então que tonéis de
Vinho Madeira são enviados para as Índias, com o único objetivo de o enriquecer
e valorizar, para então regressarem à Europa onde conquistaram uma fama sem
precedentes. Em Inglaterra
o Vinho da Roda ganha uma reputação
extraordinária o que levou à sua comercialização a preços
astronómicos. Motivados pelas
evidências de que o calor engrandecia o Vinho Madeira e provavelmente aliciados
pela valorização do Vinho da Roda, os produtores, em meados do século XVIII
investem na estufagem, técnica que é utilizada até aos nossos dias.
A
Barbeito
Todos os membros do grupo da Wine
Senses tiveram a oportunidade de degustar todas as categorias de vinhos da
Madeira feitos na Barbeito, mas mais do que isso todos tiveram a possibilidade
de aprender com quem sabe de vinho. Iniciaram-se um ciclo de degustações onde
destaco a degustação da Casta Tinta Negra Mole em vários estágios de
envelhecimento, casta que Ricardo conhece como ninguém. A casta Tinta Negra
Mole é a casta mais utilizada para a produção de vinho na Ilha da Madeira, esta
mesma uva também é usada na região do Algarve para a produção de vinho
forticado. Uma casta que não têm sido bem divulgada e até explorada pela maioria dos produtores
madeirenses. Sempre se associou a Tinta Negra Mole a volume e fraca qualidade.
No entanto Ricardo nos mostra que tem sido injusta a classificação feita aos
vinhos por ela elaborados. “É preciso saber conversar com cada uma das uvas e
tirar o melhor partido de todas elas. É muito tempo de dedicação e de pesquisa até chegarmos ao
conhecimento Aqui podemos constatar que
podemos ter vinhos da mais alta qualidade elaborados com essa mítica casta”.
A Barbeito é uma empresa que não se
identifica com produções volumosas ela preza pela qualidade com baixos níveis
de produção o que faz desta vinícola uma boutique de joias preciosas.
Para que todos tenham conhecimento
abaixo descrevo as diferentes categorias dos Vinhos da Madeira:
Designações regionais:
Frasqueira
Vinho da Madeira associado ao ano de colheita e cujo produto
seja obtido das castas nobres tradicionais, tenha sido envelhecido pelo
menos durante 20 anos antes do engarrafamento e apresente qualidade destacada,
devendo constar de contas correntes específicas, antes e depois do
engarrafamento.
Colheita
Vinho da Madeira de uma só colheita, de boa qualidade, com direito à
indicação da data da respectiva vindima e com envelhecimento mínimo de 5
anos.
Colheita com
Indicação de "Casta"
Vinho da Madeira de uma só colheita e com 100% de uma só casta, de boa
qualidade, com direito à indicação da data da respectiva vindima e
envelhecimento mínimo de 5 anos.
Canteiro
Vinho da Madeira alcoolizado logo após a fermentação, sendo a
seguir armazenado em cascos, onde envelhece durante um período mínimo de 2
anos, devendo constar de conta corrente específica e não podendo ser
engarrafado com menos de 3 anos.
Com Indicação de
Idade
Vinho da Madeira com direito ao uso da designação de idade, quando
tenha qualidade em conformidade com os respectivos padrões, sendo as indicações
de idade permitidas as seguintes: 5, 10, 15, 20, 30 e mais de 40 anos de idade.
Reserva (ou Velho)
Vinho da Madeira em conformidade com o padrão de 5 anos de idade.
Reserva Velha (ou
Muito Velho)
Vinho da Madeira em conformidade com o padrão de 10 anos de idade.
Reserva Especial
Vinho da Madeira correspondente ao padrão de 10 anos com qualidade
destacada.
Solera
Vinho da Madeira associado a uma data de vindima que constitui a
base do lote, retirando-se anualmente para engarrafamento uma quantidade que
não excede 10 % do lote existente, a qual é substituída por outro vinho de
qualidade. O máximo de adições permitidas é de 10, após o que poderá ser
engarrafado de uma só vez todo o vinho existente.
Rainwater
Menção vinho da Madeira com uma cor entre o "dourado" e o
"meio dourado", com grau Baumé compreendido entre 1,0º e 2,5º, de boa
qualidade, com aprovação prévia da respectiva amostra-padrão. Normalmente
servido como aperitivo. Muito divulgado nos Estados Unidos da América.
Classificação dos vinhos da Madeira quanto ao seu grau de doçura:
Tipo de vinho
|
Açúcares totais (mínimo)
(g/L) |
Açúcares totais (máximo)
(g/L) |
Extra Seco
|
Não existe
|
49,1
|
Seco
|
49,1
|
64,8
|
Meio Seco
|
64,8
|
80,4
|
Meio Doce
|
80,4
|
96,1
|
Doce
|
96,1
|
Não existe
|
Classificação dos vinhos da Madeira quanto á sua cor:
Muito Pálido
Menção reservada para o vinho muito aberto na cor, levemente citrino, quase
transparente, característico dos vinhos jovens.
Pálido
Menção reservada para o vinho aberto na cor, com tom palha,
característico do Vinho da Madeira seco e
meio seco, consequência da ausência de maceração ou maceração pouco pronunciada
durante a fermentação e oxidação ligeira da matéria corante, comum em vinhos com envelhecimento em casco.
Dourado
Menção reservada para o vinho com densidade cromática mais carregada que o
Vinho da Madeira pálido com reflexos dourados e brilhantes.
Meio Escuro
Menção reservada para o vinho com boa riqueza cromática, sendo no entanto mais leve
nos tons acastanhados.
Escuro
Menção reservada para o vinho de profunda intensidade cromática resultante do equilíbrio das cores alaranjadas e acastanhadas, sendo estas últimas predominantes devido à oxidação da matéria corante e migração das matérias extrativas do casco.
Amadurecimento:
«Estufagem»
O vinho é colocado em estufas de aço inox, aquecidas por um sistema de
serpentina, por onde circula água quente, por um período nunca inferior a 3
meses, a uma temperatura entre os 45 e 50 graus Celsius. Concluída a
«estufagem», o vinho é sujeito a um período de «estágio» de pelo menos 90 dias
à temperatura ambiente. A partir deste momento pode permanecer em inox, ou ser
colocado em cascos de madeira, até reunir as condições que permitem ao enólogo
fazer o acabamento do vinho, para que possa ser colocado em garrafa, com a
garantia de qualidade necessária. No entanto, estes vinhos nunca podem ser
engarrafados e comercializados antes de 31 de Outubro do segundo ano seguinte à
vindima. São vinhos maioritariamente de lote.
«Canteiro»
Os vinhos selecionados para estágio em “Canteiro” (esta denominação
provém do facto de se colocar as pipas sob suportes de traves de madeira,
denominadas de canteiros) são envelhecidos em cascos, normalmente nos pisos
mais elevados dos armazéns onde as temperaturas são mais elevadas, pelo
período mínimo de 2 anos. Trata-se de um envelhecimento oxidativo em casco,
desenvolvendo os vinhos, características únicas de aromas intensos e complexos.
Os vinhos de canteiro só poderão ser comercializados, decorridos pelo menos 3
anos, contados a partir de 1 de Janeiro do ano seguinte ao da vindima.
No Brasil
não existem metade dos estilos de vinho da Madeira a disposição e pior que isso
é não ter sido feita uma boa educação dos profissionais que trabalham com
bebidas nos restaurantes do Brasil (garçons e sommeliers). Impedindo assim que os
profissionais e consumidores possam desfrutar de um dos melhores vinhos do
mundo. A Wine Senses Brasil que preza pela educação vínica nas áreas de
especialização irá desenvolver o primeiro curso de especialização em vinhos da
Madeira já em 2014.
Abaixo o
link deste maravilhoso produtor de vinhos da Madeira que já tem disponíveis no
Brasil alguns grandes vinhos, assim como do importador que têm a disposição
seus vinhos.
Compilado por José Santanita
Fontes:
Enciclopédia do vinho
Barbeito Wines

